Desta vez foi quase. Quase apostamos no novo em detrimento do “mesmo”. Quase nos arriscamos, quase fizemos diferente. Mas foi quase.
A eleição do Rio de Janeiro nos mostrou alguns traços básicos da nossa personalidade como eleitores. Elegemos mais um governante com tudo o que um político tem que ser. Um jovem que tenta parecer maduro, com seu terno de grife e cabelos muito bem penteados. Nas propostas, também, nada de novo - apenas as velhas idéias. A partir de agora, ninguém mais ficará em filas nos hospitais, nenhuma criança ficará sem creche ou escola, pagaremos o preço justo pelo transporte, etc., etc. e tal. Nada contra, nada novo, nada demais.
A novidade estava no Gabeira, a novidade e o risco. Porque temos tanto medo de nos arriscar? De fazer um novo caminho, de ouvir uma nova proposta, um novo jeito de fazer o antigo?
O novo nos paralisa, nos faz ter medo. E se der errado? E se não for bom? Tantas questões fáceis de responder se pudermos anular a paralisia que o medo nos dá.
Mas nem tudo está perdido, a onda verde do Gabeira nos deixou marcas. Nos mostrou que é possível ganhar eleição fazendo de um outro jeito, sem sujar as ruas, sem fazer promessas vazias, sem querer parecer um super-herói.
O Gabeira nos fez ver que nós podemos deixar de ser subdesenvolvidos no pensamento, podemos pensar como pensa os cosmopolitas, pensar em grandes idéias, em grandes feitos, em grandes proporções.
Daqui a quatro anos poderemos ver o resultado do nosso medo. Será que teremos novas escolas, novos hospitais e novas ruas de fato? Ou apenas teremos maquiado as velhas paredes? Porque novas escolas dependem de novos olhares sobre a escola que temos hoje. Novos hospitais dependem de passarmos a ver os pacientes como pessoas e não com números de prontuário. A violência, a fome, a miséria, de tudo já se fez para acabarmos com essas mazelas. Mas fazemos sempre o mesmo. Tentamos as mesmas saídas, sempre sem sucesso.
“Cada povo tem o governo que merece”, esta célebre frase, resume o sentimento de hoje. Merecemos o velho, pelo medo do novo. Então que, pelo menos em nossas vidas, tenhamos, a partir de hoje, um pouco de Gabeira. Vamos deixar pra trás os velhos modelos, os velhos caminhos. Vamos tentar uma nova música, um novo amor, uma nova forma de ver nossos filhos, nossos pais, nossos empregos.
Obrigada Gabeira, o Rio de Janeiro ficou um pouco mais maravilhoso, depois de você.
Líu Brito
Escrevo pra me entender e pra entender o mundo. Escrevo o que me dá na telha, o que me dói e o que me faz feliz.
Monday, October 27, 2008
Tuesday, April 29, 2008
A tristeza alimenta a alegria
A alegria reúne, a felicidade aglomera, mobiliza. A tristeza afasta, dá medo, preocupa. O difícil é que da vida, fazem parte os dois sentimentos e não tem como fugir, estão sempre lado a lado convivendo entre nós.
O fato é que vivemos fugindo do que é triste, como se o triste fosse contagioso.
Estou de molho em casa por conta de uma pequena cirurgia. Nem tão triste assim, apenas mais um percalço da vida, nada demais. Mas não posso sair, preciso de repouso, ficar em casa, colocar a leitura em dia, ver programas de TV que nunca dá tempo e ganhar carinho e paparicos.
Bem, ando meio carente neste período de reclusão e talvez por isso, senti muita falta das visitas que não vieram. Pensando nas razões que levaram meus amigos a darem telefonemas sem aparecer, me vieram algumas teorias.
A primeira delas, me fez lembrar que uma grande amiga acaba de se casar. O anúncio do casamento veio quase que paralelo ao anúncio que de eu teria que me operar. Comecei então a pensar na comoção que o casamento criou, até porque fiquei bem triste de não poder participar. Longos e-mails discutiram as roupas que deveriam ser usadas, as visitas ao shopping, o presente certo, etc e tal. Um casamento é uma renovação, representa um dia de felicidade tão extremo que é impossível não se contagiar. Todos querem estar presentes para se beneficiar deste momento, desta alegria.
Paralelo a isso, um amigo doente, representa uma tristeza, um momento ruim, do qual ninguém está livre, não dá pra convidá-lo a sair e esquecer o que houve em algum lugar com música e gente bonita. Não precisa de roupa, de presente, não combina com euforia.
Alegria reúne, a tristeza afasta. Pare pra pensar, você vai perceber que nos seus momentos de felicidade - aniversários, casamento, nascimento, você esteve muito mais acompanhado do que nos momentos de tristeza.
A minha mãe e o namorado, que têm sido minhas companhias me perguntam: onde andam seus amigos? E aquela sua amiga, não vem te visitar? Sinto-me cobrada, mas não consigo culpá-los, ao contrário disso, compreendo.
Compreendo porque eu também adoro as festas, os aniversários, os casamentos. Mas me entristeço, porque sei que meus amigos não faltariam ao meu casamento e lotam as mesas de chope no meu aniversário.
E antes que comece a questionar se tenho amigos de verdade, resolvi pensar em como vivemos a vida buscando na alegria alheia a nossa própria. Um amigo distante me mostrou esse ponto de vista hoje e concordei. Vivemos tentando sorver alegria, quase que sugar um contentamento que não está em nós.
Eu, você, todo mundo é assim, constantemente em fuga. Fugimos de tudo o que é ruim e doloroso, nos protegemos para sobreviver. Mas o contato com a tristeza faz a alegria ficar mais alegre. A tristeza promove o equilíbrio, nos faz lembrar de como é bom sorrir. Adoro o verso que diz que é melhor ser alegre que ser triste, mas a verdade é que fugir da tristeza não impede de a encontrarmos em alguma esquina da vida.
Por isso, vamos sair do nosso mundo encantado e começar a visitar os amigos dodóis e até os não amigos também. O meu vizinho de quarto no hospital era um velhinho que estava sempre sozinho. Quis emprestar a minha mãe pra ele, porque se ficar no hospital já é ruim, sozinho então é sem comentários.
Equilibre a sua alegria com a tristeza de alguém, junte a sua companhia com a solidão de alguém, suas palavras ao silêncio de quem não tem com quem falar, porque caridade é bem mais do que doar alimentos e roupas usadas, é doar amor.
O fato é que vivemos fugindo do que é triste, como se o triste fosse contagioso.
Estou de molho em casa por conta de uma pequena cirurgia. Nem tão triste assim, apenas mais um percalço da vida, nada demais. Mas não posso sair, preciso de repouso, ficar em casa, colocar a leitura em dia, ver programas de TV que nunca dá tempo e ganhar carinho e paparicos.
Bem, ando meio carente neste período de reclusão e talvez por isso, senti muita falta das visitas que não vieram. Pensando nas razões que levaram meus amigos a darem telefonemas sem aparecer, me vieram algumas teorias.
A primeira delas, me fez lembrar que uma grande amiga acaba de se casar. O anúncio do casamento veio quase que paralelo ao anúncio que de eu teria que me operar. Comecei então a pensar na comoção que o casamento criou, até porque fiquei bem triste de não poder participar. Longos e-mails discutiram as roupas que deveriam ser usadas, as visitas ao shopping, o presente certo, etc e tal. Um casamento é uma renovação, representa um dia de felicidade tão extremo que é impossível não se contagiar. Todos querem estar presentes para se beneficiar deste momento, desta alegria.
Paralelo a isso, um amigo doente, representa uma tristeza, um momento ruim, do qual ninguém está livre, não dá pra convidá-lo a sair e esquecer o que houve em algum lugar com música e gente bonita. Não precisa de roupa, de presente, não combina com euforia.
Alegria reúne, a tristeza afasta. Pare pra pensar, você vai perceber que nos seus momentos de felicidade - aniversários, casamento, nascimento, você esteve muito mais acompanhado do que nos momentos de tristeza.
A minha mãe e o namorado, que têm sido minhas companhias me perguntam: onde andam seus amigos? E aquela sua amiga, não vem te visitar? Sinto-me cobrada, mas não consigo culpá-los, ao contrário disso, compreendo.
Compreendo porque eu também adoro as festas, os aniversários, os casamentos. Mas me entristeço, porque sei que meus amigos não faltariam ao meu casamento e lotam as mesas de chope no meu aniversário.
E antes que comece a questionar se tenho amigos de verdade, resolvi pensar em como vivemos a vida buscando na alegria alheia a nossa própria. Um amigo distante me mostrou esse ponto de vista hoje e concordei. Vivemos tentando sorver alegria, quase que sugar um contentamento que não está em nós.
Eu, você, todo mundo é assim, constantemente em fuga. Fugimos de tudo o que é ruim e doloroso, nos protegemos para sobreviver. Mas o contato com a tristeza faz a alegria ficar mais alegre. A tristeza promove o equilíbrio, nos faz lembrar de como é bom sorrir. Adoro o verso que diz que é melhor ser alegre que ser triste, mas a verdade é que fugir da tristeza não impede de a encontrarmos em alguma esquina da vida.
Por isso, vamos sair do nosso mundo encantado e começar a visitar os amigos dodóis e até os não amigos também. O meu vizinho de quarto no hospital era um velhinho que estava sempre sozinho. Quis emprestar a minha mãe pra ele, porque se ficar no hospital já é ruim, sozinho então é sem comentários.
Equilibre a sua alegria com a tristeza de alguém, junte a sua companhia com a solidão de alguém, suas palavras ao silêncio de quem não tem com quem falar, porque caridade é bem mais do que doar alimentos e roupas usadas, é doar amor.
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