
Baseado em matéria publicada no Jornal "O Globo" do dia 15/08/06.
Foi difícil não lembrar dos meus dias na praia, com meus pais e minhas irmãs, enquanto lia o jornal esta manhã. Difícil não me lembrar da ansiedade nos dias que antecediam a viagem anual a Ilhéus, do meu biquíni amarelo com peixes coloridos, dos meus braços abertos rodopiando na longa faixa de areia até ficar tonta.
Ao ler o jornal esta manhã, de repente me dei conta que o mundo havia mudado ao meu redor. O mundo que eu conhecia, de crianças que viajavam com os pais para uma praia famosa, excitados pela possibilidade de nadar nas águas quentes do mar, este mundo só existe agora em minhas lembranças.
As minhas lembranças se misturam às lembranças do jovem assassinado ontem, na praia de Copacabana, enquanto sua mãe se banhava no mar e seu pai caminhava pela praia. Quantos planos ele teria feito para aquela viagem, durante quantas noites sonhou com as garotas bronzeadas sob o sol do Brasil, feliz com a vida que tinha, ainda que aos dezenove anos...
Uma das grandes alegrias da viagem, que compensava até a tristeza pelo fim das férias, era a volta. Com a pele bronzeada exibida como um troféu, contávamos todas as nossas aventuras. Até onde tínhamos conseguido nadar, as noites sob a lua correndo pela praia enquanto os adultos pescavam, os namoricos da Rose, a mais velha entre nós, levávamos dias até que as histórias acabassem.
Penso na volta dos pais pra casa, sem histórias, sem peixes pescados, apenas com a certeza de que o mundo que eles sonharam para o filho já não existe. O mundo colorido que tinham visto em fotos na agência de viagens havia desaparecido, junto com o sorriso do seu filho sob o sol de Copacabana.