A casa da Maria estava vazia de novo.
A casa e o coração da Maria já passaram por muitas mudanças, mas nenhuma delas abalou os alicerces de tudo aquilo que construiu depois de tanto tempo caminhando, errando e acertando.
Nesse momento, Maria observa a sua casa, pensando em como cada um dos objetos chegaram ali.
A estatueta da última viagem, foi paixão a primeira vista. É uma adolescente negra e grávida, tocou na hora o olhar, ao mesmo tempo de menina e de mulher. Menina de olhos sonhadores e mulher, que é mãe, mesmo antes de ver sua cria.
Os três vasos de pedra sabão, foram comprados em Ouro Preto, mas Maria trouxe de lá algo muito mais inesquecível. Foi lá que ela e Bia se conheceram e depois de tentarem se observar a distância, construíram uma amizade tão resistente e ao mesmo tempo tão leve quanto aqueles vasinhos.
Os olhos agora se encontram com um dos únicos quadros da parede. Uma mistura de texturas e cores que formam uma estampa em tons de verde. Ela lembra de ter gostado dele assim de cara, mas logo que chegou em casa, pensou se deveria ter sido o escolhido. Afinal, eram tantas as opções espalhadas na praça naquele Domingo. Mas naquela tarde, de mãos dadas com o namorado, vendo os olhos apaixonados dele sobre ela, Maria achava que tudo na vida era uma obra de arte. Foi influenciada por esse sentimento que escolheu o presente.
De repente, os móveis parecem dançar a sua frente, ela pensa em suas novas resoluções, essas que todos fazem no fim de um relacionamento ou de do ano ou de qualquer coisa importante. Trocar a cor das paredes, cortar os cabelos, voltar pra academia, na verdade Maria parecia querer mudar a sua mobília interna. Trocar velhos hábitos, idéias ultrapassadas por outras novas. Renovar-se, esse era o desejo dela. Mas não queria perder tudo o que juntou até ali. Suas conquistas estavam totalmente ligadas às mudanças que ela conseguiu realizar na sua forma de ver a si mesma. Levou muito tempo até conseguir transformar a menina tímida e envergonhada na mulher segura e decidida de agora.
Sua personalidade passara muito tempo exatamente como a sua sala, vazia. Tinha sido uma grande e difícil decisão, deixar que a sala ficasse assim para não sucumbir aos móveis baratos que só serviriam para ocupar espaço.
Assim como a sala após o primeiro casamento chegar ao fim, estava o seu coração. A ansiedade de encher tudo como peças novas e coloridas era imensa. Ela quase podia ver tudo o que queria colocar em cada cantinho. Mas sabia que precisava esperar, ou corria o risco de deixá-la parecida com o que era antes, em tons bege e preto.
Maria pensa muito antes de tomar decisões importantes. Precisa levantar todos os prós e contras. Avalia milimetricamente as conseqüências de tudo. Por isso, decidiu que por enquanto tudo ficaria como está, mas incluiria umas flores à decoração da casa.
Olhou novamente a casa vazia, mas já não a via tão vazia assim, afinal, ela estava tão preenchida pelas suas histórias e pelas suas risadas, pela sua própria presença, que está longe de ser vazia.
A garrafa de vinho, um CD de jazz, seu gato dormindo no sofá e Maria foi pra cozinha preparar seu jantar. De repente, não conseguia pensar em prazer maior, em alegria maior do que aquela. Afinal, aquele era exatamente o lugar onde Maria queria estar. Com ela mesma.
Escrevo pra me entender e pra entender o mundo. Escrevo o que me dá na telha, o que me dói e o que me faz feliz.
Tuesday, August 28, 2007
Friday, August 24, 2007
Pensamento
Menino quando eu penso em ti, a minha perna treme,
O meu olho brilha, minha voz falseia.
Menino de pensar nas noites,
Que nunca tivemos
E na tua boca,
Que é cor de coral,
O corpo todo dança,
Minhas mãos passeiam,
Em teu corpo nu.
Menino, já que teu coração tem dono,
Podias ao menos,
Visitar meus sonhos,
Dar-me beijos inocentes,
Desses beijos de menino,
Que criam mundos paralelos,
De prendas e piás
Dançando em noites de lua.
Menino do coração de açúcar
Dá-me a chance de ver-te sempre,
E de te ter quem sabe um dia,
Passeando em cavalo baio
Com o vento em teus cachos de anjo.
Ai menino, quando eu penso em ti.
O meu olho brilha, minha voz falseia.
Menino de pensar nas noites,
Que nunca tivemos
E na tua boca,
Que é cor de coral,
O corpo todo dança,
Minhas mãos passeiam,
Em teu corpo nu.
Menino, já que teu coração tem dono,
Podias ao menos,
Visitar meus sonhos,
Dar-me beijos inocentes,
Desses beijos de menino,
Que criam mundos paralelos,
De prendas e piás
Dançando em noites de lua.
Menino do coração de açúcar
Dá-me a chance de ver-te sempre,
E de te ter quem sabe um dia,
Passeando em cavalo baio
Com o vento em teus cachos de anjo.
Ai menino, quando eu penso em ti.
Medo
O medo muda, emudece.
O medo é manto, protege.
Medo do escuro do mundo
Do mar do amor.
O medo mata e amansa, amadurece.
Medo é mola, impulsiona.
O medo é mar.
O mundo muda,
O medo mata.
Medo de amar,
Medo do mar,
De tudo que muda,
De tudo que mata.
Medo de voar,
De virar a esquina,
De acabar o que é doce.
O medo muda,
Mas sempre vive,
A mudar o mundo.
O medo é manto, protege.
Medo do escuro do mundo
Do mar do amor.
O medo mata e amansa, amadurece.
Medo é mola, impulsiona.
O medo é mar.
O mundo muda,
O medo mata.
Medo de amar,
Medo do mar,
De tudo que muda,
De tudo que mata.
Medo de voar,
De virar a esquina,
De acabar o que é doce.
O medo muda,
Mas sempre vive,
A mudar o mundo.
Tuesday, August 07, 2007
Meu pai não é um herói. Ainda bem.
Eu ganho um presente todos os anos no dia dos pais, ao saber que o meu pai ainda vive, a contar histórias sentado em sua varanda.
Meu pai não me deu uma festa de debutante, mas eu jamais vou esquecer aquela noite de Janeiro, quando ele convidou um grupo de reisado a entrar em nossa casa para nos brindar com um show.
Meu pai nunca me levou a Disney, mas foram tantas as viagens de veraneio, quando circulávamos descalças entre as barracas do camping. Tantos dias girando de braços abertos à beira do mar. Tantas noites de lua vendo-o pescar sob as estrelas que pipocavam no céu como fogos de artifício.
A honestidade é tudo no mundo, filha. Quantas vezes essa frase foi repetida, como se proferida por um daqueles filósofos gregos. E era apenas meu pai.
Era apenas ele, que desafiava a minha timidez, ao me colocar sobre a mesa de centro, para recitar meus poemas de menina e depois sorrir orgulhoso. Eu ainda posso ouvir.
Eu não tive um desses pais de comercial de TV, que chegam para o jantar e ajudam com os deveres de casa. Mas a sua presença sempre foi tão esperada, que quase não dormíamos quando se anunciava. Talvez as madrugadas mais felizes da minha vida, a que ele chegou com um pequeno filhote ou aquela outra com a bolsinha de palha, enfeitada com cordinhas cor-de-rosa.
Meu pai não me ensinou a dançar, mas me deu força todas as vezes que eu tentei.
Meu pai não me ensinou a falar bonito, mas estava lá com sua risada, sempre que eu me arriscava.
Meu pai não me ensinou a acreditar em Papai Noel, mas chegou tantas vezes de madrugada trazendo presentes.
Meu pai foi peão, adestrador de cavalos, caminhoneiro, fazendeiro, mas nunca foi um herói. Ainda bem, porque já se arriscava bastante sem sê-lo.
Ensinou-me a fazer arroz tropeiro, a assoviar e a acreditar que tudo está sempre bem. Não me ensinou arte ou ofício, além do mistério de fazer amigos.
Um dia ele me disse: Levanta a cabeça filha, não tenha medo de nenhum homem porque você é filha de um. Nunca mais abaixei a minha cabeça e desde então ando com ela erguida, olhando a todos nos olhos.
Meu pai vive tão distante, em seu mundo de sonhos, cavalgadas, riachos e bezerros recém-nascidos. Mas é presença constante em meu mundo, em meus sonhos e em tudo o que eu faço.
Meu pai não me deu uma festa de debutante, mas eu jamais vou esquecer aquela noite de Janeiro, quando ele convidou um grupo de reisado a entrar em nossa casa para nos brindar com um show.
Meu pai nunca me levou a Disney, mas foram tantas as viagens de veraneio, quando circulávamos descalças entre as barracas do camping. Tantos dias girando de braços abertos à beira do mar. Tantas noites de lua vendo-o pescar sob as estrelas que pipocavam no céu como fogos de artifício.
A honestidade é tudo no mundo, filha. Quantas vezes essa frase foi repetida, como se proferida por um daqueles filósofos gregos. E era apenas meu pai.
Era apenas ele, que desafiava a minha timidez, ao me colocar sobre a mesa de centro, para recitar meus poemas de menina e depois sorrir orgulhoso. Eu ainda posso ouvir.
Eu não tive um desses pais de comercial de TV, que chegam para o jantar e ajudam com os deveres de casa. Mas a sua presença sempre foi tão esperada, que quase não dormíamos quando se anunciava. Talvez as madrugadas mais felizes da minha vida, a que ele chegou com um pequeno filhote ou aquela outra com a bolsinha de palha, enfeitada com cordinhas cor-de-rosa.
Meu pai não me ensinou a dançar, mas me deu força todas as vezes que eu tentei.
Meu pai não me ensinou a falar bonito, mas estava lá com sua risada, sempre que eu me arriscava.
Meu pai não me ensinou a acreditar em Papai Noel, mas chegou tantas vezes de madrugada trazendo presentes.
Meu pai foi peão, adestrador de cavalos, caminhoneiro, fazendeiro, mas nunca foi um herói. Ainda bem, porque já se arriscava bastante sem sê-lo.
Ensinou-me a fazer arroz tropeiro, a assoviar e a acreditar que tudo está sempre bem. Não me ensinou arte ou ofício, além do mistério de fazer amigos.
Um dia ele me disse: Levanta a cabeça filha, não tenha medo de nenhum homem porque você é filha de um. Nunca mais abaixei a minha cabeça e desde então ando com ela erguida, olhando a todos nos olhos.
Meu pai vive tão distante, em seu mundo de sonhos, cavalgadas, riachos e bezerros recém-nascidos. Mas é presença constante em meu mundo, em meus sonhos e em tudo o que eu faço.
Saturday, August 04, 2007
Itororó*
Sai de Itororó com 13 anos, mas acho que Itororó nunca saiu de mim. Tenho ares de garota da cidade, que tem medo de baratas e não toma banho frio, mas lá no fundo tenho a roça dentro de mim.
Itororó, apesar da maioria dos meus amigos cariocas não acreditarem, está no mapa, quero dizer, não em qualquer mapa, só nos mais completos, talvez no google maps, será?
Também tem outra lenda que preciso esclarecer. Ninguém foi a Itororó beber água e não achou. Esta música, juro que vou explicar pela última vez, foi provavelmente feita pensando no bairro do “Tororó” que fica em Salvador.
Minha querida Itororó é uma cidade pequena, dessas com uma praça que tem uma igreja, algumas beatas, fofoqueiras, meninas que “se perderam”, doidos conhecidos, intelectuais, políticos disputando o poder, um pipoqueiro que todos conhecem pelo nome, um bordel, que lá se chama “brega” e todas essas coisas que têm todas as cidades pequenas.
Nasci numa família grande, claro, sou a quarta filha de uma das mulheres mais bonitas da cidade com um dos seus maiores conquistadores, boa mistura essa.
Nasci numa casa enorme, à beira do Rio Colônia. Minha casa tinha um quintal tão grande que tivemos uma vaca de estimação, verdade, a Tonta, ela tinha esse nome porque era muito louca, quebrava o muro e fugia pra feira pra comer maçãs. Também coitada, vivia cercada por 5 crianças que lhe faziam de gato e sapato. Costumávamos maquiá-la, além de colocar roupas e passearmos como se ela fosse um pônei. Dia triste o que a Tonta foi embora.
Nos mudamos da casa no rio para uma casa na praça, eu tinha uns 10 ou 11 anos e o que as minhas irmãs consideraram uma verdadeira ascensão social pra mim foi o fim. Não conseguia imaginar coisa pior do que sair da minha espaçosa e querida casa para me mudar para um cubículo na praça. Mas fomos voto vencido, eu e a Keila, a mais nova, sabe como é, ninguém escuta criança nessas horas.
Mas no final das contas, não foi tão ruim nossa vida na praça, tínhamos o Sr. Fabrício, o jardineiro que trocava comida por amêndoas caídas das árvores e o pipoqueiro, que não me lembro o nome.
Foi nessa casa que as meninas começaram a “namorar firme” e no meu caso, foi lá que virei garota de recados, mas isso rendia uns doces, não posso reclamar.
Foi essa praça que eu deixei aos 13 anos, chorando enquanto via ficar para trás meus amigos de infância, minhas histórias de menina, meu bichos de estimação, as árvores da minha praça, o padre e o cheiro da terra quando chovia. Naquele dia ainda não podia ver o que hoje eu vejo, que nada disso ficou apenas lá, porque tudo isso cabe dentro de mim. É minha herança, é o que eu tenho de mais bonito, de melhor.
Eu nunca deixei Itororó porque Itororó jamais vai sair de mim.
*Itororó, palavra de origem tupi que significa pequena cachoeira, é um município brasileiro do estado da Bahia. Sua população estimada em 2004 era de 19.434 habitantes.
Nesta cidade é produzido um dos melhores tipos de carne seca (carne do sol), onde pela fama da carne se instaurou há 18 anos o festival da carne de sol ou simplesmente Festsol, que ocorre entre 21 a 24 de junho.Fonte: Wikipedia
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