Saturday, August 04, 2007

Itororó*




Sai de Itororó com 13 anos, mas acho que Itororó nunca saiu de mim. Tenho ares de garota da cidade, que tem medo de baratas e não toma banho frio, mas lá no fundo tenho a roça dentro de mim.
Itororó, apesar da maioria dos meus amigos cariocas não acreditarem, está no mapa, quero dizer, não em qualquer mapa, só nos mais completos, talvez no google maps, será?
Também tem outra lenda que preciso esclarecer. Ninguém foi a Itororó beber água e não achou. Esta música, juro que vou explicar pela última vez, foi provavelmente feita pensando no bairro do “Tororó” que fica em Salvador.
Minha querida Itororó é uma cidade pequena, dessas com uma praça que tem uma igreja, algumas beatas, fofoqueiras, meninas que “se perderam”, doidos conhecidos, intelectuais, políticos disputando o poder, um pipoqueiro que todos conhecem pelo nome, um bordel, que lá se chama “brega” e todas essas coisas que têm todas as cidades pequenas.
Nasci numa família grande, claro, sou a quarta filha de uma das mulheres mais bonitas da cidade com um dos seus maiores conquistadores, boa mistura essa.
Nasci numa casa enorme, à beira do Rio Colônia. Minha casa tinha um quintal tão grande que tivemos uma vaca de estimação, verdade, a Tonta, ela tinha esse nome porque era muito louca, quebrava o muro e fugia pra feira pra comer maçãs. Também coitada, vivia cercada por 5 crianças que lhe faziam de gato e sapato. Costumávamos maquiá-la, além de colocar roupas e passearmos como se ela fosse um pônei. Dia triste o que a Tonta foi embora.
Nos mudamos da casa no rio para uma casa na praça, eu tinha uns 10 ou 11 anos e o que as minhas irmãs consideraram uma verdadeira ascensão social pra mim foi o fim. Não conseguia imaginar coisa pior do que sair da minha espaçosa e querida casa para me mudar para um cubículo na praça. Mas fomos voto vencido, eu e a Keila, a mais nova, sabe como é, ninguém escuta criança nessas horas.
Mas no final das contas, não foi tão ruim nossa vida na praça, tínhamos o Sr. Fabrício, o jardineiro que trocava comida por amêndoas caídas das árvores e o pipoqueiro, que não me lembro o nome.
Foi nessa casa que as meninas começaram a “namorar firme” e no meu caso, foi lá que virei garota de recados, mas isso rendia uns doces, não posso reclamar.
Foi essa praça que eu deixei aos 13 anos, chorando enquanto via ficar para trás meus amigos de infância, minhas histórias de menina, meu bichos de estimação, as árvores da minha praça, o padre e o cheiro da terra quando chovia. Naquele dia ainda não podia ver o que hoje eu vejo, que nada disso ficou apenas lá, porque tudo isso cabe dentro de mim. É minha herança, é o que eu tenho de mais bonito, de melhor.
Eu nunca deixei Itororó porque Itororó jamais vai sair de mim.

*Itororó, palavra de origem tupi que significa pequena cachoeira, é um
município brasileiro do estado da Bahia. Sua população estimada em 2004 era de 19.434 habitantes.
Nesta cidade é produzido um dos melhores tipos de
carne seca (carne do sol), onde pela fama da carne se instaurou há 18 anos o festival da carne de sol ou simplesmente Festsol, que ocorre entre 21 a 24 de junho.Fonte: Wikipedia

2 comments:

aruanã bento said...

suas histórias de Itororó parecem Gabriel Garcia Marques com seu realismo fantástico...com o detalhe de tudo ser verdade...fica a sugestão para você escrever uma série de contos da terrinha..um fã vc já tem...bj

Anonymous said...

Que decep�o... D� pr�xima vez que eu for beber �gua, prometo que vou para It�r�r� (os acentos s�o para dar a leitura correta do nome, como voc� fala).. rs rs

Se n�o achar �gua l� em It�r�r� levo um gal�o.
hahaha

A hist�ria est� muito maneira L�u, concordo com a sugest�o acima, da s�rie It�r�r�.

Beij�o !