Muitas coisas novas aconteceram naquele verão, em minha vida. Todas as mudanças percebidas no corpo, que finalmente começava a se parecer com um corpo de mulher, não eram nada se comparadas à avalanche de coisas que passavam pela minha cabeça. Desenho animado ou beijos de novela, peço a Susie ou um sutien para usar sob o uniforme, falo com ele ou escrevo outro poema.
Foi no meio dessa avalanche, que me meti entre os maiores na casa da minha tia Nilza, para ouvir uma música que falava de índios e deixava a todos enlouquecidos, provocando discussões acalouradas. Antes que a minha irmã mais velha percebesse a minha presença e me enxotasse dali, já tinha me apaixonado pela beleza dos versos do Legião. Tão doces e tão fortes.
Conheci uma nova poesia, que não falava apenas de garotos e corações dilacerados, mas discutia coisas bem mais sérias, como as notícias que painho via no Jornal Nacional. Nunca imaginei que elas pudessem virar versos. Estava atônita, tentava entendê-lo, repeti-los.
Esse exato momento da minha vida me veio à tona por esses dias, quando uma situação me fez lembrar o verso, “é só você quem deve decidir o que fazer pra tentar ser feliz”. Busquei então a música, e comecei a pensar nesta grande responsabilidade que tantas vezes empurramos com a barriga. Até porque é tão mais fácil ficar repetindo a culpa da crise econômica, dos homens que não querem se comprometer, do chefe que não compreende, do cabelo crespo, da dificuldade para emagrecer, dos hormônios na TPM...
Assim como, quando éramos adolescentes, as dúvidas sobre a vida e sobre o sexo oposto continuam perturbando nossos dias, mas apesar disso e de não termos mais a poesia do Legião, ainda está em nossas mãos, tomar decisões sobre o que fazer pra tentar ser feliz. Então lamento, se você escolheu ficar com alguém, que não sabe o que quer da vida, vai ter que arcar com o ônus do sofrimento, das discussões, do vou não vou. Se você escolheu uma carreira que não vai te deixar rico, lá vem alegria de fazer o que gosta com o ônus de estar sempre duro.
Mainha sempre diz que ninguém fica feliz com o que tem no momento. É como se a felicidade fosse sempre um projeto para o futuro. Se está solteira queria muito estar namorando ou até casada, mas se está namorando, perde várias horas pensando em como seria ótimo estar solteira e por aí vai.
Filosofias à parte, a verdade é que, as dúvidas e medos da adolescência, jamais abandonam a nenhum de nós, mudam os assuntos, os alvos, mas a busca pelo que não temos e a dificuldade de aceitar que nossa felicidade é o resultado das nossas escolhas, isso sempre estará aqui. Como diz o Legião, parece um teorema sem ter demonstração e parece que sempre termina mas não tem fim.
4 comments:
Que lindo seu blog, Liu! Amei seus textos. Pena que vc abandonou...
Bjinhos
É verdade, Mara. QUando ele tá longe é quando a gente mais briga. Também porque só nos falamos pela internet e eu fico mais à vontade pra dizer as coisas do que pessoalmente. C'est la vie, somos todos meio loucos...
Ei, to dando graças a Deus que vc não sabe terminar algumas coisas. O blog é uma delas....hehehehhe...
Não pára de escrever não moça. A gente gosta de ler você.
Gostei do texto Teorema. Tem cheirinho de disco de vinil.
:)
Ótimo, ótimo! Tenho que admitir um pouco da minha frustração descobrir que essas dúvidas estão de fato, sempre aqui até hj, mas ao mesmo tempo uma criança que dá várias gargalhadas gostosas permanece também, e isso me faz totalmente FELIZ! ameiiiiiiii
Shaninha
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