Epílogo

Então eu disse a ela que queria ficar sozinho. Aí ela me olhou com aqueles seus olhinhos tão doces e agora um pouco atônitos e não disse nada.

O silêncio dela me fez ouvir nossas risadas, me fez sentir nossas mãos, me fez sentir seu cheiro, aquele que ela tinha quando nos vimos pela primeira vez.

Mas eu queria ir, eu tinha que ir. O que eu ia fazer? Então ela sorriu, sim, tenho certeza que ela sorriu e disse que tudo bem. Ela lembrou de um livro que leu e me disse que queria amar, sem se apaixonar,  disse que amor tinha a ver com companheirismo, com paz.

Eu, agora atônito, tonto, sem rumo,  disse tudo o que eu podia naquele momento, disse tudo o que sabia dela, do seu bom humor, do jeito que cuidou de mim, do quanto fui feliz com ela.

Mas eu só queria ficar sozinho, ela entendeu, me deu um abraço e seguiu em frente, seguiu sozinha, logo ela, que queira tanto ter alguém.

Epílogo- O outro lado

Então ele me disse que queria ficar sozinho. Eu levei um susto, eu acho. E acho que ele notou, pelo jeito que olhei, como quem diz: isso é brincadeira? Mas eu não disse nada.
Ficamos em silêncio por um tempo. Aquele silêncio me fez pensar no que eu sentia por ele, no que eu queria com ele. Lembrei do cheiro, do beijo, dos papos, das risadas.
Aí eu ri, imagina, era tudo o que não queria fazer, mas eu ri.
Ri e disse que tudo bem, afinal, o que mais eu poderia dizer? Não que eu não quisesse perguntar por que, o que tinha acontecido e todas essas coisas que você quer saber quando uma história acaba. Mas de que adiantaria?
Ouvi calada ele dizer do quanto gostava de mim, lembrando de como eu cuidava dele, sem saber como cuidar dele me fazia feliz.
Mas ele disse que queria ficar sozinho, eu entendi, então dei um abraço, sem saber se estava triste, sem saber o que esperar. Depois do abraço, eu segui, já pensando em recomeçar. Triste por estar sozinha, logo eu, que queria tanto ter alguém.

Jura

Juro amar você, doce e alegremente

E todos os dias da minha vida,

Eu terei um tempo para pensar em você

E desejar que você esteja bem e feliz.

Que desde que você entrou em minha vida,

Tudo o que eu faço é pra ver você feliz.

Porque desde que você veio

E já faz tanto tempo,

E eu já nem sei quem eu era

Antes de você.

Juro ser leal aos seus sonhos

E lutar por eles,

Como se fossem meus.

Que a sua, voz,

Ah! A sua voz é a coisa mais linda e poderosa,

E transforma o meu dia,

Mesmo quando tudo parece tão estranho no mundo.

Juro, prometo, mas sei que nem preciso,

Porque você já sabe,

Porque você sente,

Cada vez que te olho,

Que meu coração é seu,
Mas mesmo assim, eu juro.

Sem rótulos

Ele é contradição

Inverno e verão,

Diferente, inconsequente,

Livre.

Ele nunca esteve quando deveria,

Nunca fez o que era plausível,

O que era esperado.

Nunca seguiu  as regras,

Os contratos, os acordos.

Livre, faz como acha que pode,

O que acha que deve fazer.

Erra, acerta.

Me ensinou a ver o outro como igual,

Me ensinou a altivez da doçura

A força do silêncio,

A dor da saudade,

A ansiedade da espera,

Me ensinou a aceitar,

Cada um como é.

Sem valsa, sem abraço, sem falsa presença.

Quando está,

Está em tudo.

Quando não está, é falta sentida,

Presença esperada.

Menos que pai,

Mais que amigo,

Sem definição,

Sem rótulo,

Sem explicar.

Pai.

Poeminha

Ela só queria o amor

E um dia de inverno.

Ela só queria a paz

E um pouco mais.

Queria a felicidade imensa

De uma vida boa.

Um tapete,

Um gato e um sofá.

Onde o amor está

Não parecia Domingo,

Não tinha a mesma luz,

A mesma alegria.

Você precisa se acostumar com as mudanças,

Você precisa ser forte e entender,

Você precisa comer melhor

E ser mais feliz.

Mas de repente, não tem mais sol

O dia acaba, a vida passa.

Você sente raiva, você sente dor,

De repente o sol se põe

E você não está em um cartão postal.

É só a sua vida,

E ela é só um dia de Domingo,

Com seu auge e seu fim...

Não se perca, não se aborreça,

Não espere demais,

Não acredite, nem duvide  de tudo o que vê.

É só a sua vida,

E ela não é mais que um dia de Domingo.

Esteja pronto,

Acorde cedo,

Vista-se rápido,

Carregue pouca coisa.

Feche as janelas,

Tome um café

Ponha um casaco,

E desapareça,

Não é mais Domingo,

Não há mais o que ver.

Dual

Notícia e música,

Livro e TV.

Quero o sol e o inverno,

O filho e o silêncio,

Amor e paixão.

Saber e sabor,

Caos e ordem

Quero gritar e calar,

Quem eu quero,

O que eu quero,

Quero mais

E um pouco menos também.

Tudo junto,

Só um pouco,

Quero paz,

E um pouco mais.

E quero samba e Rock n’ Roll

Brisa e vendável.

E é tanto o que quero,

Que mal cabe  aqui dentro.

Mas é tão pouco também.

De que cor?

Meninos e meninas que cantam e dançam ritmos que nem sempre entendo, nem sempre gosto. Mas não posso negar o tanto que gosto de ver a alegria, a mistura, a forma como se expressam . Não me preocupa a cor que eles tem na pele, nem nos cabelos. Afinal, de que cor eu sou? E vc? Meu pai tem cor de índio, minha mãe de sinhazinha, meu cabelo é crespo, minha pele é branca, a minha irmã é morena, meu sobrinho é mulato, minha sobrinha é loura.

Tem funckeira branca, sambista negro, pagodeiro negro com atriz branca. E daí?

Já não chega de tantas definições, comparações, separações?

Respeite a música que você não gosta, o time que você não torce, o programa que você não assiste, no canal que você não vê. E se você não vê, porque especula? Porque critica?

Não mostrar na TV, os penteados, as roupas e danças dos guetos, não faz com que eles mudem ou desapareçam.

Mostrar na TV, negros com o cabelo louro, dançando até o chão, não significa  dizer que outros negros não possam assumir seus cabelos crespos, não possam ser músicos clássicos, dançar outras danças, ouvir outros ritmos.

A riqueza da cultura, sua importância na mudança do mundo, está exatamente na diversidade, na liberdade de ser o que quiser ser, é isso que esquenta nossas almas e nos faz sentir vivos.

Eu também quero ver mais diversidade na TV,  no cinema, no teatro, mas não posso escolher o que os artistas farão, o que cantarão, como usarão seus cabelos e roupas. O que posso é não gostar, não assistir, não comprar o disco, não ir ao show. Você também.

De bobeira

O amor é bobo,

Tem riso frouxo.

O amor é louco,

Dá cambalhota,

Vira e revira.

O amor é tolo,

Sonha acordado,

Corta um dobrado.

O amor é isso,

Faz que não vê,

Finge de morto,

Rola na cama.

O amor é dança,

Escolhe o ritmo,

Desfaz o passo,

Bagunça tudo.

O amor tem disso,

Faz que não vai,

Perde a razão,

Depois se refaz

Como quem não quer nada

E só quer ser feliz.

A minha e a sua

Dor de farpa no dedo,

De topada no pé da mesa,

Dor de cotovelo,

De filho querendo sair.

Dor de não ter o que se quer,

Dor de amor,

De pedra no rim,

De tanto rir.

A minha dor,

A sua dor,

As dores do mundo.

E todo mundo tem uma dor

E toda dor tem um fim.

Tem dor que demora,

Dor que insiste,

Tem dor rapidinha,

Dor que nem doía tanto assim

Depois que passa,

Depois que vai, é só mais uma,

Mas como dói.

A felicidade do João

A felicidade é pequena. A felicidade é simples. Pode ser exercitada, mas não precisa de muito esforço. A felicidade é de dentro. A felicidade é você, não o outro, o que ele faz ou deixa de fazer. A felicidade não é o mundo, não é o topo, não é perfeição.  A felicidade é agora não  o tempo todo.

A Madonna não é feliz o tempo todo, o Bill Gates também não era. O Dalai Lama, pasme, também não sabe como ser feliz em 100% do tempo.

Até aquela sua amiga linda, rica e bem casada? Nem te conto, tem lá seus muitos momentos de tristeza.

Então, se você ganhar um milhão, se você perder 20 Kg, descobrir o amor da sua vida, encontrar a cura da AIDS, não importa, nem assim você será feliz pra sempre.

Portanto,  diminua as suas expectativas e comece a encontrar intervalos de felicidade em sua vida cotidiana. No cheirinho do café, no ar condicionado em um dia quente, na tacinha de vinho, musiquinha boa, sexo bacana, beijinhos no cinema, sorrisinho do seu filho, carinho do seu gato ou cachorro. Isole esses momentos, faça reservatórios deles e o mais importante, crie estes parênteses de alegria quando eles não surgirem naturalmente.

A felicidade não é um presente que alguém pode te dar. Mesmo que alguém queira muito, não tem jeito,  não dá pra empacotar. Nem as mães conseguem e olha que elas tentam o tempo todo.

Receita? Tem não. Depende de você começar a se perguntar o que é que te deixa com um sorrisinho bobo, uma vontade de dar pulinhos. Fazer uma comidinha gostosa, rir de piada boba, vinhozinho mais CD de jazz, brincar com sobrinho, falar com a mãe, conversar horas sobre nada com a irmã ou com uma amiga, livro mais dia frio mais cobertor, viajar pra Bahia, dançar sozinha, sambinha antigo tocando no rádio, terminar um trabalho e achar que ficou muito bom, ih... a lista é longa.

A boa notícia, é que assim como não existe ninguém que só tenha motivos pra ser feliz, também não existe ninguém que só tenha motivos pra ficar triste e não, você não é diferente. Sim, seu caso é exatamente como o meu e o de todo mundo. Ah, mas é porque você não sabe como é a minha vida. Sem essa, a sua vida deve estar na média da geral. Então, pára de show.

Não espere trocar de carro, de casa, de mulher ou de emprego pra ser feliz. Comece agora, seja feliz a pé,  solteiro, no aluguel ou na sua cobertura que é pequena demais, com seu chefe que não emenda o feriado, com a toalha molhada que seu marido deixa em cima da cama. Não espere mais, corre lá e refaz a sua lista. O que te faz feliz? 

Ando tão à flor da pele

Estamos todos à flor da pele, prestes a explodir, por um fio. Eu, você, o prefeito, o vizinho, o motorista, o papa, a sua mãe. Todos a ponto de partir pra cima, dizer uns desaforos, distribuir uns tapas, dar uns bons berros.

Tanto nó na garganta, de onde vem? Acho que pode ser deste nosso dia a dia louco, corrido, assimilando dores, tristezas e insatisfações. Também vem de uma desesperança coletiva pelo excesso de cobranças.

Tem que ser feliz, tem que fazer sucesso, ser boa mãe, ser o melhor, ter isso e aquilo. Tem horas que realmente só resta gritar. Será?

A verdade é que temos precisado de mais silêncio, de mais paz, mais vento no rosto, mais chopinho gelado. A verdade é que estamos precisando também  de menos. Menos falatório, menos amigos virtuais, menos desejos, menos, bem menos.

E quando o pote ficar cheio, o caldo querendo entornar,  vai dar um mergulho, escuta uma boa música, leia Vínicius, canta alto, tira onda de camaro amarelo, mas não se deixe transformar em um monstro enfurecido distribuindo vociferações. Afinal, quando quem grita mais alto é a questão a ser decidida, todo o resto já perdeu a importância, por mais que você tivesse razão. Então, relaxa.

Menininhas

Eu tenho 05 filhas e 05 mães.
05 menininhas que me sorriem
E  trazem flores todas as manhãs.

E  por elas eu sou quem eu sou
E pra elas eu sou menininha,
De olhar tristinho pedindo proteção.

Eu tenho 05 amores, cada um com sua cor, cada um com seu jeito e sua dor.
E quanto mais eu vivo mais amo
E quanto mais amo mais aprendo e mais quero amar.
05 mulheres  me deram a luz,
E me deram filhos e me deram irmãos
05 mulheres me deram a mão e me dão o ombro e oferecem o colo.
Umas vieram antes, outras chegaram depois,  mas todas cresceram 
Apoiadas umas às outras 
Como galhos que se entrelaçam e assim se alimentam.
Eu tenho 05 mulheres e de nenhuma delas abro mão. E você, quantas tem?

Rio Bahia

E assim deitado na rede,

quem quer saber onde isso vai dar?

Vai embora e volta,

bate a porta e jura,

mas o gosto da pimenta parece que fica

e a lembrança dos contornos, o cheiro de mar

e a saudade e a vontade

faz querer voltar,

faz querer ficar.

Só mais um pouco,

mais um amigo, um carnaval,

mais um réveillon em Copa,

mais um chope, uma praia

e fui me deixando ficar.

Salve a minha Bahia e esse seu lugar,

salve nosso sorriso,

seu Rio, o meu e nosso jeito de amar.

 

Líu Brito

Bendita Solidão

Tirei umas férias do mundo, resolvi conhecer um universo novo.

Passei lá um réveillon e brindei comigo umas pequenas vitórias. Passei lá também um carnaval,  descobri meu ritmo, ensaiei uns passos.

Fiz festa de aniversário, fiz um pedido, recebi o primeiro pedaço.

Você vai precisar de uns dias sozinho, se quiser saber quem é esse estranho, chamado você.

Vai precisar do silêncio da solidão, para conseguir ouvir seus pensamentos. Vai precisar não ter com quem falar, para aprender a falar consigo e ouvir o que você tem a dizer.

Eu acho que nem todos precisam deste tempo a sós, alguns já nascem sabendo quem são, o que sentem e o que querem, será?

No meu caso, estar só me deu essa capacidade de cuidar de mim como ninguém mais saberia fazer. Então eu me conheci. Cada cantinho meu foi devidamente explorado. Consegui ver claramente do que eu gosto, o que me faz bem e também todas as minhas dificuldades, meus dilemas e poemas.

Talvez minha voz interior falasse baixinho demais, quase sussurrando ao meu ouvido. Talvez já houvesse dentro de mim, esse mundo particular, com uma entrada estreita por onde só eu passava. E era um mundo tão intenso, tão fantástico, que eu quis viver lá por um tempo.

Eu precisei ficar só, pra conseguir me dizer: muito prazer!